1.
Introdução
O
envelhecimento é um fator pertinente à vida de qualquer ser humano.
Ele tem caráter fisiológico, conseqüentemente, vem acompanhado de
diversas alterações nos sistemas funcionais. Nos tempos atuais, o
treinamento de força em indivíduos na terceira idade tem sido foco
de observações e resultados de diversas pesquisas de intuito
científico, que concluem ser uma forma segura de aumentar a força
muscular em qualquer idade (ACSM, 1998, 2002), em indivíduos
saudáveis, portadores de comprometimentos cardiovasculares e idosos
(POLLOCK et al., 2000; FLETCHER et al., 2001). Assim comprova-se sua
eficácia, tanto na reabilitação como na qualidade de vida. Com
base nesses dados, o IBGE destacou que no ano de 2030 o Brasil terá
a sexta população mundial em número absoluto de idosos.
Objetivando assim a introdução do treinamento de força nesses
grupos para melhoras na qualidade de vida. A luz destas considerações
serão discutidas de forma concomitante, de acordo com objetivo do
estudo, as alterações cardiovasculares no envelhecimento e
adaptações cardiovasculares resultantes em pessoas idosas
submetidas ao treinamento de força. Com isso destacando total
importância de incluirmos precocemente o treinamento de força, nos
programas de saúde relacionados a essa população.
2.
Pressão arterial
A pressão
arterial é o do resultado do débito cardíaco multiplicado pela
resistência periférica, ajustados para manter a pressão sanguínea
em níveis abaixo de 120 mmHg sistólica e 80 mmHg diastólica
(FREIS, 1960). A definição de pressão arterial (PA) conta-se da
pressão exercida pelo sangue nas paredes dos vasos sanguíneos
(COSTILL e WILLMORE, 1994). PA é definida por dois valores
distintos, a PA distólica e a PA sistólica. O valor da pressão
sistólica representa a mais alta mensurada nas artérias, que
corresponde a sístole ventricular (ponto máximo de expulsão do
sangue pelo ventrículo) do coração. O menor valor refere-se à
pressão diastólica, e representa a reação das paredes arteriais
sobre o sangue, que corresponde a diástole ventricular (ponto de
fechamento da válvula aórtica) do coração. Em relação a novas
classificações da pressão arterial, a IV Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão Arterial 2002. Demonstra os seguintes estágios:
De acordo com o avanço
da idade, as alterações cardiovasculares são inevitáveis, em que
a aorta e as grandes artérias apresentam paredes muito elásticas
que se distendem com a sístole e impulsionam o sangue para as
artérias, artériolos, capilares e veias, fenômeno que se dá
durante a sístole ventricular e continua durante a diástole
ventricular. Isto representa na prática, um segundo impulso de
grande importância até os 50 anos de idade, quando então a aorta e
as grandes artérias vão perdendo a sua elasticidade (LUNA, 2002;
FLEG, 1986) e aumentam a rigidez pela infiltração do colágeno
(ARAÚJO et al. 1999). Essa elasticidade dos vasos mantém a pressão
sistólica em níveis normais, e a perda dessa capacidade contribui
para a elevação dos níveis pressóricos na idade mais avançada.
Este fenômeno
tornou-se mais importante quando recentes estudos mostraram que a
rigidez desses vasos, condiciona o aumento da pressão arterial
sistólica, enquanto a pressão arterial diastólica tende a ficar
normal ou até baixar devido à redução da complacência dos vasos
de grande capacitância (FRANKLISS,1999; FERRIER, 2001), conduzindo a
níveis de hipertensão mais comum nos idosos, chamada de hipertensão
sistólica isolada (consultar tabela 1.1) dentre esses estudos, estão
BENETOS (1997) e DOMANSKY(1999) que concluíram através da amostra
de pacientes entre 50 e 79 anos, elevados riscos cardiovasculares
associados à maior pressão de pulso, ressaltando não só a
importância da elevação da pressão arterial sistólica, mas
também da redução na presença de pressão arterial diastólica.
Segundo VASAN et al.(2002) divulgou que pessoas na idade adulta,
apresentam 90% de risco de se tornarem hipertensas ao atingirem uma
idade mais avançadas. TADDEI et al.(1997) destacaram em seu estudo
que 53% das consultas analisadas em pacientes entre 65 a 96 anos foi
devida à PA elevada, confirmando a prevalência de hipertensão
arterial sistêmica nessa faixa etária. Acompanhando a mesma linha
de pesquisa STARR et al.(1996) observou-se, através de 603 pacientes
na faixa etária entre 70 e 88 anos, que os mesmos não relataram
algum problema de saúde, não realizaram exames e não utilizaram
nenhum medicamento regularmente, mas conseqüentemente relatou-se a
presença de hipertensão. Quatro anos mais tarde foi verificada a
morte de 69 pacientes (67 com atestados de óbito). De acordo com
esses e outros dados o AMERICAN HEART ASSOC.(1989) detectou que além
da hipertensão sistólica foi divulgado, através de dados, a
hipertensão idiopática , ou seja , de origem desconhecida. Ela pode
ser resultante de fatores genéticos, de uma dieta com altos teores
de sódio, da obesidade, da inatividade física, do estresse
psicológico, de uma combinação destes fatores, ou de outros
fatores ainda por serem substanciados ou determinados.
Complementando, é provável que a incidência da debilidade e da
inutilização física funcional esteja associada similarmente com a
pressão arterial elevada (HENDREIK et al. 1998). A partir de todos
os estudos e relatos acima citados e um maior conhecimento de
fisiopatologia, a Hipertensão persiste como sendo o maior fator de
risco primário para doenças cardiovasculares em idosos (J.C.N. HIGH
BLOOD PRESSURE, 1997; SANDER, 2002), Com esses estudos, foi também
demonstrado que um dos grandes vilões como fatores de risco
cardiovascular é o sedentarismo. Ele é comparável a hipertensão,
hipercolesterolemia e tabagismo (WENGER,1996; POWELL et al., 1987) em
que indivíduos com satisfatório condicionamento físico comparados
a indivíduos sedentários, ambos com pressão arterial normal, os
sedentários possuem um risco de 20% a 50% maior de desenvolvimento
de hipertensão arterial (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 1997).
Dentro dessas estatísticas são mostradas as alterações de PA
junto ao envelhecimento.
Durante o esforço, a
pressão arterial sistólica aumenta em proporção direta ao aumento
da intensidade dos exercícios impostos. Estudos relataram que a PAS
inicia o treinamento a 120 mmHg em repouso, ultrapassa níveis de
200mmHg durante as respostas agudas, ou seja, aquelas que acontecem
em associação direta com a sessão dos exercícios. Recomenda-se
que o nível da PAS durante o esforço em hipertensos mantenha-se em
torno de <>
De acordo com o estudo
realizado por FERRIER et al.(2001) concluiu-se que o treinamento
aeróbio moderado não obteve melhora na rigidez das artérias em
pacientes portadores de hipertensão sistólica isolada, após 8
semanas de treinamento. Paralelamente LIMA et al.(1998) observou-se
que o treinamento aeróbio não promove reduções e alterações
significativas dos níveis pressóricos durante a monitoração. A
partir desses relatos define-se que treinamento de força causa um
impacto no sistema cardiovascular do idoso, promovendo adaptações
crônicas, ou seja, respostas que resultam da exposição freqüente
e regular das sessões de exercícios. Permitindo o desempenho de um
trabalho submáximo com causas de menor stress cardiovascular. Esta
informação é fundamentada de acordo com CONONIE et.al (1991) que
avaliaram homens e mulheres 70 a 79 anos durante o período de 6
meses, que foram submetidos ao treinamento de força, consistindo em
1 série de 8 a 12 repetições em dez equipamentos, treinados 3
vezes por semana. A conclusão desse estudo determinou que os
avaliados com pressões sanguíneas em torno de 140mmHg sistólica e
90mmnHg diastólica, reduziram em média 8 a 9 milímetros ao término
da pesquisa. Foram beneficiadas as populações idosas com pressões
sanguíneas elevadas. Paralelo a esse estudo WOOD et al.(2001)
observaram os componentes cardiovasculares e o treinamento de força,
sendo o estudo composto de 36 participantes com idade entre 60 e 84
anos, treinando 3 vezes por semana durante 12 semanas. Assim chegaram
a conclusão da redução da pressão arterial no repouso e durante o
exercício.
Outros estudos tem
mostrado um efeito favorável do exercício dinâmico de força de
leve a moderada intensidade na redução da PA em hipertensos. Isso
foi observado após 2 semanas de treinamento, persistindo enquanto o
individuo se mantém ativo. Com a interrupção do treinamento os
níveis de pressão arterial retornaram a valores anteriores à
prática dos exercícios de força. Talvez a conseqüência desses
resultados seja pelo fato de o exercício dinâmico de força resulte
em respostas vasodilatadoras, reduzindo a rigidez das artérias e
força de propulsão do coração. Ficou esclarecido também que
quanto maior a densidade capilar, maior será a acomodação dos
componentes da pressão arterial (débito cardíaco x resistência
vascular periférica).
Os exercícios de força
de alta intensidade são evitados em populações idosas, de modo que
não ocorra a manobra de valsava, definindo-se como o bloqueio
respiratório que leva ao fechamento da glote interrompendo o retorno
venoso para o coração. Assim surge como um componente perigoso em
pacientes portadores de problemas cardiovasculares (CONS. NAC.
REABIL. CARDIOV., 1997), elevando a pressão intratoráxica , com
níveis exagerados da PAS e PAD a níveis substanciais .
3. Frequência cardíaca
Freqüência cardíaca
(FC) destaca-se como o principal parâmetro que fornece as
informações cardiovasculares(COSTILL e WILLMORE,1994), refletindo a
quantidade de esforço que o coração deve realizar ao satisfazer as
demandas aumentadas do corpo durante uma atividade. Os exercícios
físicos progressivos, em todos os grupos de populações, provocam
diminuição no sistema nervoso parassimpático e aumento no sistema
nervoso simpático, responsável pelo controle da FC e a diminuição
generalizada da atividade vagal durante o exercício. A freqüência
cardíaca máxima apresenta um decréscimo de aproximadamente 6 a 10
bpm por década (POLLOCK et al.,1987), acompanhando este decréscimo
o consumo de oxigênio reduz de 5 à 15% por década, após a idade
de 25 anos (MAZZEO et al. 1998). A idade através dos parâmetros
para investigações clínicas, hemodinâmicas ou de exercícios, é
o determinante principal para avaliar a FC .A partir de relatos da
tabela 2.1 abaixo, são destacados os níveis iniciais de treinamento
em indivíduos sedentários, observando questões de maior stress no
sistema cardiovascular de acordo com acréscimos na idade.
Adaptado do I Consenso
Nacional de Reabilitação Cardiovascular; 1997- Arq. Bras. Cardiol
A idade associada ao
declínio da atividade física desencadeia alterações cardíacas
relacionadas ao sedentarismo, em que essas alterações assemelham-se
às produzidas pelas doenças. Portanto, arritmias nos idosos não
significam necessariamente a presença de doenças cardíacas, mas um
fator de risco podendo chegar ao óbito. Além de responsáveis pela
redução da FC, as arritmias registradas através da
eletrocardiografia e que durante o treinamento de força o
comportamento da FC apresenta níveis a baixo dos padrões, que
promovem mínimos os riscos de isquemia do miocárdio (VERRIL e
RIBISL, 1996). A partir do estudo de SAVIOLI et al.(1988) que
objetivaram avaliar a ocorrência de arritmias em idosos através de
eletrocardiografia, com idades entre 65 e 82 anos observaram que a
freqüência cardíaca em repouso variava entre 45 a 75 bpm e as
máximas entre 60 a 150 bpm. Seguindo o raciocínio TAMMARO et
al.(1983) realizaram estudo, utilizando eletrocardiografia
convencional em 605 pacientes com mais de 60 anos de idade. Nele
detectaram arritmias em 33,2 % nos pacientes com mais de 75 anos e em
23,9 % dos pacientes com menos de 75 anos. Em alguns relatos, a FC
alterada pode ser considerada como fator de risco, quando envolve a
presença de taquicardia sinusal (FC > 100 bpm).
No idoso, a freqüência
cardíaca de repouso tende a reduzir conforme os parâmetros de
elevação da idade e aumenta em proporção direta ao aumento da
intensidade dos exercícios impostos, sendo que não atinge
freqüências cardíacas máximas (maior valor da freqüência
cardíaca que se pode atingir num esforço máximo até o ponto de
exaustão) e consumo de oxigênio máximo (defini-se como o maior
valor de oxigênio consumido ao nível alveolar pelo indivíduo)
durante o esforço, comparados com indivíduos mais jovens (LAKATTA,
1993; ARAÚJO et al., 1999). Observa-se que se ocorrerem aumentos
significativos maiores do que a carga de esforço, com objetivo de
atingir a FC máx., podem-se constatar sintomas de exaustão extrema
acompanhados de sinais de hipoxia. O declínio do consumo de oxigênio
observado com a idade é curvilíneo durante toda essa faixa etária,
podendo destacar que a responsabilidade para essa redução, seria a
massa muscular reduzida, a redução na habilidade do fluxo sanguineo
e a habilidade dos músculos de utilizarem oxigênio (LAKATTA et al.,
1990). Em indivíduos ativos, esta queda ocorreria mais lentamente
caso tais indivíduos se mantivessem exercitando; enquanto nos
sedentários, o declínio seria mais rápido inicialmente.
Acompanhando a
afirmação, a tabela abaixo relata a capacidade aeróbia baseada no
consumo de oxigênio de acordo com a idade:
Adaptado do American
Heart Association; 1994
Acompanhando essa
afirmação, durante a realização de um estudo HAGERMAN et
al.(2000) comprovaram que o grupo de indivíduos entre 60 e 75 anos
obtiveram melhoras significativas de consumo de oxigênio com o
treinamento de força. Dentre os estudos mais recentes, organizados
por OKAZAKI et al(2002) concluíram com sucesso, que idosos na faixa
etária a partir de 64 anos, obtiveram aumentos progressivos do
consumo de oxigênio diante de um treinamento de força, utilizando
cargas entre 60-80% de 1 repitição máxima (RM), 2-3 séries com 8
repetições, treinando 3 vezes por semana, durante 18 semanas. Em
relação ao aumento do consumo de oxigênio relativo em idosos,
outros estudos demonstram conclusões semelhantes ao dos estudos
acima citados (SPINA et al 1997; SEALS e CHASE, 1989; HAGBERG et al
1989; ARAÚJO et al.,1999; CARROL et al.,1995; FERKETICH et al.,
1998). Entretanto não foi apresentado nenhum relato, envolvendo
adaptações da FC em virtude do treinamento de força. De acordo com
os relatos de inúmeras pesquisas, POLLOCK et al.(1987); LAKATTA
(1990); FLEG (1986) destacaram que a redução do consumo de oxigênio
com a idade é afetada pelo treinamento. A partir da realização
destes ocorrem mudanças progressivas em suas taxas, parecendo não
observar qualquer efeito sobre a FC máx., em que a mesma
declinava-se com a idade, independente do treinamento.
A prescrição de
exercícios a partir de avaliações de membros superiores em relação
a membros inferiores envolve desvantagens, tais como: utilização de
uma menor massa muscular; com isto, o consumo de oxigênio é
reduzido em até 20 ou 30% e também resultado em menor esforço da
FC (FRANKLIN, 1985), sendo assim ALONSO et al, (1998) comentam que a
relação entre a FC e o consumo de oxigênio demonstram que o
comportamento da FC, durante o exercício, depende em grande parte da
demanda metabólica na musculatura ativa. Em relação a este fato
conclui-se que prescrições de treinamento baseado nas reservas de
FC e FC máx. exibe limitações, podendo superestimar a capacidade
funcional do indivíduo (NEGRÃO et al., 1996)
4. Débito cardíaco
O débito cardíaco
(DC), define-se como a quantidade de sangue bombeada pelo coração a
cada minuto. O DC é o resultado entre a freqüência cardíaca e
volume de ejeção sistólico (componente determinante da capacidade
de resistência cardiorespirátorio , para taxas de esforço máximas
e submáximas) . O DC caracteriza-se por ser cerca de 90% do valor
máximo de esforço a ser alcançado por indivíduos, cujo objetivo
principal é suprir a demanda de oxigênio exigida pelos músculos
ativos. A alteração durante o esforço ocorre, proporcionalmente ao
aumento do consumo de oxigênio, progredindo do repouso para o
esforço físico. O DC sofre uma imediata elevação, seguido por um
aumento gradual , até alcançar seu platô máximo. Em relação ao
volume de ejeção apresenta aumentos significativos durante a fase
excêntrica em relação à fase concêntrica do treinamento de
força, alterando conseqüentemente o DC (FALKEL et al.,1992).
Relatos COSTILL e WILLMORE (1994) demonstram que o valor do DC de
repouso é aproximadamente 5,0 l/min., sendo proporcional ao aumento
da intensidade do exercício atingindo níveis de 20 à 40 l/min.
(observar tabela 3.1)
O exercício auxilia o
aumento do consumo de oxigênio, proporcionando a vasodilatação e
apresentando acréscimos no retorno venoso. O exercício é
fundamental para o aumento do débito elevado, sendo o DC o fator
limitante de captação máxima de oxigênio na grande parte dos
indivíduos. Assim conclui-se que elevações substanciais do DC são
resultantes do aumento da FC. A Tabela abaixo demonstra, além de
cálculos de DC, valores normais em homens e mulheres.
Nos idosos, recentes
pesquisas observaram que padrões imprescindíveis para melhor
observação na alteração do DC, seriam a ecocardiografia e a
avaliação invasiva através do catéter, apresentando maior
sensibilidade (87%) do catéter em relação à ecocardiografia (55%)
que define uma fração exata da velocidade de ejeção sistólica
(HUANG et al, 2002)
Durante o repouso em
idosos, o DC apresenta sua variável em padrões normais. A partir do
esforço, ocorrem níveis elevados no DC, ao contrario do que era
dito em estudos durante 4 décadas. Nesses o DC não apresentava
níveis elevados com a idade, seja durante o repouso ou exercício
(FLEG, 1986).Em relação ao perfil hemodinâmico, o DC torna-se
alterado de acordo com a idade, diminuindo consideravelmente se
comparadas a pessoas mais jovens. Verifica-se uma redução em torno
de 50% de acordo com consideráveis alterações cardiovasculares
(ARAÚJO et al, 1999; FLEG et al, 1984) contribuindo para decréscimos
em relação ao consumo de oxigênio (FLEG et al, 1995). Relatos
mostram que para manter-se o consumo de oxigênio em indivíduos de
mais idade com históricos ativos de exercícios, sugerem que o DC
seja mantido através de acomodação no aumento do volume de ejeção
(LAKATTA et al., 1987). Foi observado que o volume de ejeção atinge
seu valor máximo, enquanto o DC aumenta metade de seu valor máximo.
Sendo assim, o DC representa um fator importante na manutenção do
DC durante os níveis de esforço.
Dentre os estudos que
observou o comportamento do DC, CARROL et al.(1995) concluíram que
ao estudar idosos com idades entre 60 e 82 anos, que treinaram em
combinações de exercício de força de 8 a 15 repetições com
apenas 1 série, utilizando membros superiores e inferiores e
exercícios aeróbios, através de esteira ergométrica em inclinação
positiva, com o tempo de 30 a 45 minutos por dia e esforço de 75 a
85 % da FC máx., treinados ambos 3 vezes por semana durante 6 meses.
A observação foi de que não houve alteração substancial do DC em
conseqüência do treinamento. Em outro estudo publicado com
conclusões parecidas, FERKETICH et al.(1998), avaliou-se mulheres
idosas, com idades entre 60 e 75 anos que treinaram combinações de
exercícios de força e exercícios aeróbios. Neste estudo os
exercícios de força consistiam em treinamento de extensão de
joelho com uma avaliação previa de 10 RM, a partir da realização
do teste utiliza-se 80% deste valor para execução do treino e os
exercícios aeróbios em bicicleta ergométrica, na intensidade de 70
a 80% do consumo máximo de oxigênio durante 30 minutos, ambos
treinandos 3 vezes por semana durante 3 meses. Ao final do estudo,
conclui-se que não houve nenhuma alteração do DC nos dois métodos
de treinamento pesquisados. De acordo com as conclusões dos devidos
estudos, mesmo que ocorram aumentos no volume de ejeção com cargas
de esforço em homens e o mesmo mantém-se seus valores constantes em
mulheres. A partir disso, relata-se que a mulher apresenta capacidade
de aumentar o volume diástolico durante o esforço, igualando-se seu
volume de ejeção em cada batimento e compenssar esse fator
(KAWAMURA, 2001). Esses fatos talvez concluam não haver adaptações
crônicas no DC, mediante ao treinamento de força e outros tipos de
treinamento em idosos, seja o fato de que seu componente principal
(Freqüência Cardíaca) não apresente alterações também em
respostas aos exercícios, declinando-se com a idade independente do
treinamento.
5. Duplo produto
O Duplo Produto
define-se como a relação entre freqüência cardíaca e pressão
arterial (DP= FC x PA), que destaca-se como mediador direto entre a
captação de oxigênio pelo miocárdio e o fluxo sanguíneo pelo
miocárdio durante o repouso ou esforço físico, MCARDLE (1998)
defende que a captação de oxigênio pelo miocárdio é determinada
por interações entre vários fatores mecânicos, a qual apresenta
maior importância no desenvolvimento de tensão dentro do miocárdio
e sua contratilidade, com o aumento em cada um desses fatores durante
o exercício. O fluxo sanguíneo do miocárdio é ajustado de forma a
equilibrar o suprimento com a demanda de oxigênio. ARAÚJO(1984)
defende que o DP apresenta uma correlação de 0,88 com o consumo de
oxigênio miocárdico, assim torna-se seu melhor preditor indireto.
Em relação a estes fatores, GOBEL et al (1978) avaliaram 27
pacientes portadores de angina peitoral, observando a relação entre
a captação de oxigênio e o fluxo sanguíneo, ambos pelo miocárdio
durante o esforço máximo. Concluiram que o treinamento proporcionou
alterações de 71% e 81% no valor descansado, tanto no fluxo
sanguíneo quanto na captação de oxigênio pelo miocárdio
respectivamente, assim correlacionados pelo DP. CLAUSEN e TRAP-JENSEN
(1976), em outro estudo com as mesmas características, observaram
que o esforço mesmo em pacientes com angina peitoral, acarreta uma
capacidade aumentada do exercício, podendo ser explicada pela
redução nas respostas do DP ao treinamento. Diante desses fatos, as
variáveis hemodinâmicas do DP avaliadas, tornam-se bons preditores
da captação de oxigênio pelo miocárdio durante exercícios, mesmo
em pessoas portadoras de doenças cardiovasculares (GOBEL et al,
1978). A FC e PA sistólica mais baixas diante da carga de trabalho
submáxima padronizada, indicam um menor fluxo sanguíneo pelo
miocárdio, conseqüentemente, uma melhora da eficiência do sistema
cardiorespiratório, refletindo adaptações do DP reduzidos em
repouso (POLLOCK, 1973). A partir de resultados obtidos em inúmeras
pesquisas, defende-se a importância de utilizá-lo como parâmetro
de segurança para observar em que tipos de atividades o sistema
cardiovascular é exposto à maior stress (FARINATTI e ASSIS, 2000)
Segundo KAWAMURA(2001),
o tempo de ejeção sistólico encurta à medida que aumentam a FC e
o exercícios físicos, levando a diminuição relativa desses
índices em relação ao aumento da FC a da PA. Relatos de BENN et al
(1996) constataram em seu estudo que caminhar rápido em planos
inclinados causa maior stress cardiovascular do que o treinamento de
força com 80% da carga máxima (observar tabela 4.1). Seguindo a
mesma conclusão FARINATTI e ASSIS (2000) observaram que o
comportamento do DP a partir da sobrecarga imposta ao miocárdio
tende a depender mais do tempo do exercício (nº de repetições) do
que da carga em si , em que o valor médio atingido pelo DP em 20RM
foi cerca de 30% maior que o valor observado para 6RM, destacando uma
relação hierárquica, de acordo com as conclusões do estudo:
Repouso< 1RM = 6RM < 20RM < Exercícios Aeróbios. Em alguns
relatos o DP pode assumir valores típicos, que variam de 6.000 em
repouso (FC=50 BPM, PAS=120 mmhg) à 40.000 (FC=200 bpm e PAS=200
mmhg), dependendo da intensidade e da modalidade do exercício.
Adaptado de Benn SJ, Mc
Cartney N, Mc Kelvie RS. J. Am. Geriatr. Soc., 1996
A Fisiologia
Cardiovascular envolvendo os componentes do DP foi relatada
anteriormente. Os estudos envolvendo idosos destreinados com 66 anos,
apresentaram conseqüências de elevações perigosas da PA e da FC
(componentes do DP) em atividades comuns de subir escadas e levantar
janelas, revelando apenas mudanças em relação a adaptações
crônicas na redução da alteração do DP, com o aumento da massa
muscular e da força por meio do treinamento de força (Mc CARTNEY et
al, 1993). Seguindo esse padrão, PARKER et al (1996) realizaram seu
estudo com a proposta de avaliar alterações do DP em mulheres
idosas com idades entre 60 e 77 anos. Elas foram submetidas ao
treinamento de resistência e de força, treinando 3 vezes por
semana, com sessões de 1 hora aproximadamente, durante 16 semanas.
Constataram assim que as avaliadas obtiveram menor resposta do DP no
treinamento de força em relação ao de resistência. Sendo assim,
ocorre um desempenho de menor stress cardiovascular durante tarefas
diárias em mulheres idosas. Podemos dizer que exercícios de força
envolvendo cargas submáximas de trabalho e poucas repetições
solicitaram menor trabalho cardíaco para suprir a demanda exigida
pelo corpo durante a atividade do que nos exercícios de força
envolvendo baixas cargas com elevado número de repetições e
exercícios aeróbios
A partir do seguinte
estudo comparativo PETRELLA et al (1999), diferenciaram grupos de
idosos ativos e sedentários, avaliando o DP em função da
recuperação da temperatura corporal (5º graus) após o esforço.
Eles observaram que o DP manteve-se inalterado em relação ao grupo
ativo e aumentou significativamente no grupo sedentário. Destaca-se
que o treinamento de força apresenta respostas benéficas em todos
os grupos de populações, além de ser fator concomitante em
reabilitações cardiovasculares.
Em relação ao tipo de
treinamento imposto, OVEREND et al (2000) em seu estudo relacionaram
o treinamento de força para avaliações das contrações
concêntricas e excêntricas, observando respostas em relação ao
DP, em 20 idosos de aproximadamente 75 anos, avaliados a partir de
exercícios de extensão de joelho com cargas submáximas. Eles
concluíram que não houve nenhuma diferença significativa
relacionada à resposta aguda do treinamento, mas alcançou
alterações elevadas nas contrações concêntricas em relação às
excêntricas a partir do stress cardiovascular. Dentre todos esses
relatos, concluiu-se que o treinamento de força apresenta menor
stress cardiovascular. É provável que o fato de a FC ser mais baixa
no treinamento de força leve à menor demanda de oxigênio, e a PA
diastólica, ligeiramente mais alta, leve à maior oferta de sangue
para o miocárdio.
6. Considerações
finais
A partir do estudo de
revisão realizado, observamos que a atividade fisica melhora a
qualidade de vida do idoso e retarda a progressão de doenças
cardiovasculares. Assim sendo, os fatores contribuintes para a
melhora da aptidão física são incluídos através das atividades
de força muscular, aeróbias e de flexibilidade . Determinando no
final do estudo que o treinamento de força apresenta menor stress
cardiovascular, com isso promovendo melhor segurança para que seja
aplicado precocemente nos processos de reabilitação e de
condicionamento físico. Deste modo, permite-se que populações
idosas sejam mais bem preparadas para retomar suas atividades diárias
e ao lazer.
Concluímos que a
elaboração de um programa de exercícios físicos é importante que
se tenha o conhecimento específico sobre a faixa etária em que o
indivíduo está inserido e sobre as alterações decorrentes neste
período, além de considerar também as peculiaridades individuais.
Assim destaca-se no quadro abaixo, os grupos aptos e que apresentam
cuidados especiais nessa faixa etária:
De acordo com diversas
análises estatísticas o treinamento de força apresenta outras
adaptações benéficas, além das cardiovasculares:
- Aumento da força muscular, resistência muscular localizada e flexibilidade
- Melhora da auto-imagem e autoconfiança
- Prevenção da sarcopenia
- Prevenção da osteoporose
- Prevenção ou minimizar as desordem da marcha
- Autonomia e independência funcional
Lembrando que antes de
qualquer atividade física, o idoso deve passar por uma avaliação
funcional e médica.
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