Agência FAPESP – A
médica Ruth Nussenzweig, professora na Universidade de Nova York, é
a primeira cientista brasileira a ser eleita como membro da Academia
de Ciências dos Estados Unidos (NAS, na sigla em inglês), em 150
anos de história da consagrada instituição.
Ruth junta-se agora na
NAS a outros três pesquisadores e professores brasileiros: seu filho
Michel Nussenzweig, da Universidade Rockfeller, José Nelson Onuchic,
da Universidade Rice, e José Scheinkman, da Universidade Princeton.
O anúncio foi feito no dia 30 de abril.
Na categoria Associado
Estrangeiro, o Brasil teve como representante eleito este ano
Vanderlei Bagnato, professor titular no Instituto de Física de São
Carlos da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Centro de
Ciências Ópticas e Fotônica (CePOF), um Centro de Pesquisa,
Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP. Em setembro de 2012, Bagnato
foi eleito membro da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano.
Bagnato junta-se a
Aloisio Araujo, Luiz Davidovich, Sérgio Henrique Ferreira, Ivan
Izquierdo, Warwick Kerr, Jacob Palis e Francisco Mauro Salzano.
Incluindo Max Birnstiel, nascido no Brasil e agora cidadão suíço,
a representação brasileira na NAS chega atualmente a 13 cientistas.
Nova pesquisa no Brasil
Professora no
Departamento de Parasitologia da Escola de Medicina da Universidade
de Nova York, Ruth trabalha com seu marido, o também pesquisador
Victor Nussenzweig, desde os tempos de estudante na Faculdade de
Medicina da USP. "Naquele tempo éramos só amigos e
trabalhávamos em projeto de moléstia de Chagas. Cabulávamos muita
aula", contou.
Reconhecida
mundialmente por suas pesquisas pioneiras em malária, doença
transmitida por mosquitos Anopheles infectados com parasitas
Plasmodium, Ruth começou desenvolvendo um modelo experimental para
estudo da imunidade contra o parasita.
"Ela foi a
primeira a mostrar imunidade contra o esporozoíto do Plasmodium, um
dos estágios de desenvolvimento do parasita", disse Momtchilo
Russo, professor no Departamento de Imunologia do Instituto de
Ciências Biomédicas da USP.
Em trabalho publicado
na década de 1960, Ruth imunizou camundongos com esporozoíto
irradiado, incapaz de se multiplicar, e em seguida infectou os mesmos
animais com esporozoíto normal, retirado da glândula salivar do
mosquito, mostrando que os animais não desenvolviam a malária. Foi
sua primeira grande contribuição na pesquisa por vacinas contra
malária.
Em seguida, isolou o
antígeno responsável por proteger os animais da doença, e a partir
daí passou a trabalhar em vacinas e tratamentos. "O modelo
experimental robusto que desenvolveu serviu como base para o
desenvolvimento da vacina contra malária que está mais avançada no
momento e que já foi testada em humanos, usando o antígeno CSP
(circumsporozoite protein), isolado por ela", explicou Ricardo
Gazzinelli, professor na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Por seu pioneirismo,
Ruth tem grande influência em diversas áreas da biologia
experimental incluindo imunologia, biologia parasitária e
desenvolvimento de vacinas. "Seus trabalhos na área de
imunologia servem como guia para o desenvolvimento de uma nova
geração de vacinas recombinantes", disse Maurício Martins
Rodrigues, professor da Universidade Federal de São Paulo que fez o
pós-doutorado na Universidade de Nova York com Ruth Nussenzweig.
Sempre usando técnicas
de fronteira, Ruth e seu grupo foram os primeiros a clonar um
antígeno de parasita e produziram o primeiro anticorpo monoclonal
contra o antígeno de parasita, segundo Gazzinelli. Outro legado do
casal Nussenzweig para a ciência, em especial a brasileira, tem sido
o treinamento de vários estudantes e pós-doutores que hoje são
importantes líderes na área de imunologia, vacinologia e
parasitologia.
Questionada sobre como
reagiu ao receber a notícia da eleição, Ruth, perto de completar
85 anos, disse à Agência FAPESP que a distinção veio “um pouco
tarde para mim, mas tomara mesmo que anime as cientistas mais
jovens”.
"A indicação
deveria ter ocorrido há 20 anos, mas certamente é um momento ímpar
para o Brasil", destacou Rodrigues.
Agora o casal Ruth e
Victor se prepara para voltar a pesquisar no Brasil, após décadas
radicados no exterior, em um projeto apoiado por meio do São Paulo
Excellence Chairs (Spec), programa-piloto da FAPESP que busca
estabelecer colaborações entre instituições do Estado de São
Paulo e pesquisadores de alto nível radicados no exterior.
"A FAPESP tem sido
muito generosa e temos tido facilidade para trabalhar em colaboração
com colegas mais jovens. Hoje em dia não fazemos mais a pesquisa,
discutimos, e é dessa maneira que temos uma certa influência",
disse Ruth.
Rodrigues, um dos
professores que irá trabalhar com o casal Nussenzweig no Brasil,
afirma que eles são sempre uma grande fonte de estímulo para os
cientistas mais jovens. "Nunca param de querer saber mais e
descobrir novas coisas”, disse.
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