Até pouco tempo atrás,
muitos técnicos, médicos e leigos acreditavam que o ácido láctico
era responsável por uma série de problemas atléticos - fadiga,
dores musculares, cãibras, limiar anaeróbio e débito de oxigênio.
Porém, atualmente,
essa explicação simples e única para tantos males fisiológicos
perdeu seu crédito. Na verdade, reconhece-se hoje, que o ácido
láctico tem importantes funções no metabolismo. Longe de ser um
"vilão", o ácido láctico é uma substância essencial,
utilizada no fornecimento de energia, na eliminação do carboidrato
proveniente da alimentação, na produção de glicose e no aumento
da resistência física em situações extenuantes. Novas pesquisas
têm sido responsáveis por essa forma "positiva" com a
qual o ácido láctico está sendo visto. Apesar delas reconhecerem
que o acúmulo de ácido láctico no sangue e nos músculos pode
interferir no estímulo nervoso de contração muscular e no processo
de produção necessário para essa contração, ressaltam também
que o ácido láctico é metabolizado muito rapidamente, e que a
quantidade de ácido láctico no sangue e nos músculos, a qualquer
instante, é extremamente menor que a grande quantidade que é
continuamente formada e eliminada pelo organismo. Sabemos hoje, que o
ácido láctico é formado e eliminado continuamente e em alta
velocidade, mesmo em repouso e em músculos adequadamente oxigenados.
Também, que um aumento na concentração de ácido láctico no
sangue significa apenas que o índice de sua entrada no sangue
excedeu o índice de sua eliminação. Durante o repouso, a quebra da
glicose parece ser a fonte principal para sua formação. Segundo a
hipótese do Paradoxo da Glicose, o carboidrato absorvido, oriundo da
alimentação, entra na circulação sanguínea principalmente na
forma de glicose. Entretanto, a maior parte ao invés de entrar no
fígado, alcança a circulação geral e se distribui em diversos
pontos, inclusive na musculatura esquelética, onde ocorre a
conversão da glicose em ácido láctico. Em seguida, o ácido
láctico retorna à circulação onde é levado até o fígado e
finalmente transformado em glicogênio. Esta manobra fisiológica,
permite a eliminação rápida do grande volume de carboidrato que
chega à circulação após uma refeição rica em carboidratos. Com
isso, o organismo evita uma reação brusca à insulina o que levaria
a um quadro de hipoglicemia (pico de insulina). O ácido láctico,
quando formado em locais onde há quebra de glicose ou glicogênio em
alta velocidade, pode em seguida, atingir lugares onde pode servir de
"combustível" para formação de glicose ou ressíntese do
glicogênio. Com o início do exercício, há uma enorme aceleração
na velocidade de quebra do glicogênio muscular, na absorção e na
quebra da glicose. O aumento na quebra de glicose conduz
inevitavelmente a um aumento na produção de ácido láctico. Embora
o nível de ácido láctico durante o exercício dependa de vários
fatores, a duração e a intensidade do exercício são as
determinantes principais. Conseqüentemente, há um aumento na
concentração de ácido láctico no sangue porque o ácido láctico
do músculo é "derramado" no sangue. Se o exercício for
sub-máximo, com o decorrer do tempo, o sistema de produção de
energia oxidativa e de utilização de gorduras se torna mais
efetivo, o que diminui a produção de ácido láctico. E ainda, o
ácido láctico que é produzido em determinados tecidos (ex:
musculatura esquelética), pode durante o próprio exercício, ser
consumido por outros tecidos (ex: coração, intestino). Isso, além
de eliminar o ácido láctico, poupa também as reservas limitadas de
glicogênio do organismo. Portanto, o atleta e o técnico devem
aprender a lidar com o ácido láctico de uma forma mais eficaz. O
principal objetivo das estratégias de treinamento deve ser minimizar
a produção de ácido láctico e aumentar sua eliminação.
Treinamentos de alta intensidade irão maximizar as adaptações
necessárias para aumentar a utilização de oxigênio (aumentam o
VO2 máx.). Em decorrência disso, o atleta se torna menos dependente
da quebra de carboidratos em ácido láctico (metabolismo anaeróbio).
O treinamento prolongado sub-máximo tem a vantagem de induzir as
adaptações musculares que reduzirão a velocidade de formação do
ácido láctico, além de aumentar sua velocidade de eliminação.
Treinamentos que envolvem natação, ciclismo e corrida por muitos
quilômetros, parecem causar um aumento máximo na capilaridade e na
capacidade mitocondrial dos músculos esqueléticos. Essa capacidade
aumenta o uso de gorduras como combustível e, conseqüentemente,
diminui a produção de ácido láctico. Além disso, uma maior
capacidade mitocondrial aumenta o consumo de ácido láctico como
combustível energético, facilitando sua eliminação do organismo.
Por: Prof. Sérgio Bunioto
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