Essa
doença neurodegenerativa nem sempre tem nos tremores seu primeiro e
único sintoma, tampouco é uma exclusividade de gente madura.
Felizmente, o avanço nos cuidados e nos tratamentos mostra que é
possível controlá-la
O
principal problema de grudar uma imagem a determinada doença é
deixar de contemplar suas manifestações mais atípicas e, assim,
ser enganado e consumido por ela durante anos. Veja o caso do
Parkinson. Quando o nome vem à mente, quase de imediato o ligamos a
uma pessoa idosa tremendo sem parar. Essa figura é um espelho
fidedigno do que o mal costuma causar, mas também pode nos iludir ao
vender a impressão de que ele sempre aparecerá desse jeito.
É com o
intuito de esclarecer a população sobre o que é a doença - que
acomete pelo menos 200 mil brasileiros -, propor a visita ao médico
diante de suspeitas e ainda mostrar como o tratamento é capaz de
controlá-la que o laboratório Roche, a Associação Brasil
Parkinson e a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) lançam a
campanha Viva Bem com Parkinson. "A iniciativa visa inclusive
alertar aqueles indivíduos que veem nos tremores um mero sinal do
avançar da idade", diz a neurologista Vanderci Borges,
coordenadora do projeto.
O
Parkinson é marcado pela degeneração progressiva dos neurônios
produtores do neurotransmissor dopamina, intimamente relacionados ao
domínio sobre os movimentos do corpo. "Ainda não conhecemos
uma causa específica, mas há, provavelmente, uma interação de
fatores genéticos e ambientais. Quando há familiares com Parkinson,
por exemplo, o risco de ter o distúrbio é maior", diz o
neurologista Henrique Ballalai, da Universidade Federal de São
Paulo.
Esse
processo de destruição das células nervosas ocorre em vários
cantos do cérebro e gera, na maioria das vezes, rigidez muscular e
os tremores involuntários. No entanto, nem sempre são eles que
denunciam o quadro. "Há parkinsonianos que nunca apresentam
esse sintoma", ressalta Vanderci - e vale esclarecer que os
tremores podem ser sinal de outros problemas. O Parkinson também não
pode ser enquadrado como doença da terceira idade. "De 10 a 20%
dos episódios ocorrem antes dos 40 anos", lembra Ballalai. Um
caso marcante é o do ator canadense Michael J. Fox, astro do filme
De Volta para O Futuro. Por isso, diante dos sinais elencados no
quadro à direita, o conselho é procurar um neurologista. Até
porque essa versão prematura do transtorno tem progressão mais
grave.
O
diagnóstico do Parkinson leva em conta justamente o que o médico
nota e o paciente sente. "Podemos lançar mão de métodos de
imagem para afastar outras doenças, mas ainda não temos um exame de
sangue que o acuse", observa Ballalai. A detecção precoce faz,
como sempre, a diferença. Infelizmente, metade dos episódios só é
desvendada em fase avançada e ainda há uma fração considerável
que desconhece ser portadora do problema.
Desmascarar
o Parkinson não significa apenas estabelecer um tratamento, mas
convencer o paciente de que seu problema, compartilhado por outros 4
milhões de pessoas mundo afora, é passível de controle por anos.
"É preciso vencer o luto da doença. O parkinsoniano não deve
se retirar do convívio social, o que até piora a situação",
diz Samuel Grossmann, presidente da Associação Brasil Parkinson,
entidade que desde 1985 trabalha para divulgar informação sobre o
transtorno, propiciar qualidade de vida aos portadores e garantir
seus direitos.
Com os
avanços recentes, tratar a doença é uma tarefa mais bem-sucedida.
"Apesar de ela ser progressiva e não ter cura, as terapias
tendem a domar os sintomas e permitir que o indivíduo leve sua vida
adiante, continuando, se for o caso, a exercer sua profissão",
analisa Vanderci, que dirige o Departamento de Distúrbios dos
Movimentos da ABN.
Entre os
recursos terapêuticos, estão drogas, fisioterapia, cirurgia e até
o implante de um marca-passo cerebral que silencia o tremelique e a
rigidez muscular. O neuroestimulador debela sinais nervosos fora de
prumo que disparam as manifestações clássicas do distúrbio. "O
candidato ideal a esse procedimento é aquele em idade produtiva que
quer retomar suas atividades habituais e cujos sintomas não são
combatidos satisfatoriamente pelos remédios", diz o
neurocirurgião funcional Cláudio Corrêa, do Hospital Nove de
Julho, em São Paulo.
O arsenal
contra o mais famoso transtorno do movimento poderá ganhar reforços
de primeira dentro de alguns anos ou décadas. Na Clínica Mayo, nos
Estados Unidos, está em fase final um equipamento que, conectado à
bengala, emite raios de luz que orientam o parkinsoniano a se
locomover com maior facilidade. No Japão, as células-tronco passam
por testes em macacos com uma espécie de Parkinson símio. Mais
perto da realidade, há pesquisas com terapias gênicas para criar
novas fabriquetas de dopamina na massa cinzenta. "Esperamos que
um dia surja algo que impeça a morte dos neurônios", diz
Ballalai. Enquanto o futuro não chega, convém se livrar das imagens
feitas e disseminar uma arma crucial para o diagnóstico e o
tratamento: a informação.
Devastação
cerebral A doença foi descoberta pelo médico inglês James
Parkinson em 1817. Ela é caracterizada pela destruição gradual e
contínua de neurônios, sobretudo os produtores do neurotransmissor
dopamina. Embora várias áreas do cérebro sejam afetadas, a
principal delas, relacionada inclusive aos sintomas mais evidentes, é
a chamada substância negra.
Os
sintomas Tremores involuntários em situação de repouso • Rigidez
muscular • Lentidão de movimentos • Passos mais lentos e
arrastados • Perda das expressões faciais • Depressão • Dores
musculares constantes • Constipação
O arsenal
contra a doença hoje
Conheça
os tratamentos convocados para calar o Parkinson
Medicamentos
Existem diversas classes de comprimidos receitadas para controlar os
sintomas. A maioria busca elevar a concentração do neurotransmissor
dopamina, que se encontra baixa demais. As doses são ajustadas e os
remédios podem ser combinados para promover um efeito sinérgico.
Fisioterapia
As sessões são coadjuvantes, mas não menos importantes no
tratamento. Elas visam melhorar a rigidez muscular, a instabilidade
da postura e a lentificação dos movimentos dos membros superiores.
Cirurgia
O procedimento tradicional causa lesões por radiofrequência em
pontos do cérebro que ficam ativos em demasia. São eles que geram
uma desarmonia e a piora dos sintomas.
Neuroestimulador
É um marca-passo cerebral, instalado dentro da cabeça em uma
cirurgia, programado para bloquear os sinais nervosos que resultariam
nos tremores e na rigidez muscular.
Uma
caneta para o diagnóstico Um equipamento que lembra uma
esferográfica conectada a um computador poderá auxiliar a flagrar o
Parkinson mais cedo e monitorar a resposta ao tratamento. Criada na
Alemanha, a tecnologia é testada na Universidade Estadual Paulista,
em Botucatu. O paciente faz alguns desenhos e o aparelho analisa se
seus movimentos apresentam um comprometimento típico da doença.
Cursos
Fonte:
Editora Abril
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