terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Compressão Pneumática no Tratamento dos Linfedemas – Utilizar ou não?
O Linfedema é uma patologia crônica, caracterizada pelo aumento do volume do membro com grande acúmulo de proteínas. É uma patologia de múltiplas causas, em que ocorre um grande dano ao sistema linfático, e é especialmente comum após as cirurgias por câncer de mama pela retirada dos linfonodos axilares.
Atualmente, o padrão ouro no tratamento do linfedema é a Fisioterapia Complexa Descongestiva – FCD (matéria anterior no Blog). Neste tratamento são empregados cuidados com a pele, drenagem linfática manual, enfaixamento compressivo e/ou contensivo e exercícios miolinfocinéticos (que ativam o sistema linfático).
Associada a este tratamento, ou empregada isoladamente, temos a Compressão Pneumática (CP). Esta terapia, apesar do seu grande uso no tratamento do Linfedema, envolve alguns questionamentos em relação a sua eficácia. A CP exerce uma pressão nos vasos linfáticos, drenando o excesso de líquido para as áreas proximais, por meio de câmaras de ar de diferentes formatos, através de um sistema de ar comprimido. O equipamento pode ter um único compartimento ou múltiplos, que insuflam seqüencialmente. A CP com uma única câmara de alta pressão comprime o membro todo de uma única vez, e a literatura internacional declara que este método está fora de uso, inclusive podendo prejudicar o linfedema por provocar o colapso dos vasos linfáticos e prejudicar o sistema venoso.
Alguns estudos têm sido realizados buscando esclarecer os benéficos da CP, no entanto, são de baixa qualidade metodológica e pouco científicos. Alguns autores relataram efetividade da Compressão Pneumática quando esta foi associada à Fisioterapia Complexa Descongestiva no tratamento do linfedema pós-mastectomia, no entanto os resultados não foram favoráveis em estudos onde a técnica foi utilizada isoladamente ou em associação com a Drenagem Linfática Manual. Apesar de um estudo declarar que a CP parece potencializar os efeitos da FCD, sua fraca qualidade metodológica e os possíveis efeitos colaterais, como fibrose e aumento do edema em regiões proximais, limitam a generalização dessa efetividade, pois esta técnica somente retira os líquidos, o que leva a um aumento de proteínas no interstício e piora da fibrose e do prognóstico do linfedema. Outro estudo declarou que apesar da redução na circunferência do membro dos sujeitos de sua amostra, não houve transporte de proteínas, desta forma esta redução deu-se apenas pelo transporte de água. Alguns estudos sugerem que como há pouco transporte de proteínas para o interior dos vasos linfáticos com o uso da Compressão Pneumática, o acúmulo destas pode favorecer a formação de fibrose podendo limitar a amplitude articular, no entanto esta limitação não foi observada em outros estudos.
Em relação às sensações de tensão e peso referidas por grande parte dos pacientes com Linfedema, também não foi relatado, nos estudos analisados, qualquer benefício da CP sobre estas queixas.
Apesar da técnica de Compressão Pneumática ainda ser utilizada no tratamento do linfedema, não existem evidências suficientes que suportam e recomendam seu uso. As publicações a respeito deste tema são de baixa qualidade metodológica, dificultando a indicação ou mesmo contra-indicação desta terapia.
Fonte:
Rech, J. B. S. et AL. Revista Brasileira de Cancerologia 2010; 56(4): 483-491.
Dini D, Mastro D, Gozza A, Lionetto R, Forno G, Vidili G, et al. The role of pneumatic compression in the treatment of postmastectomy Lymphedema. A randomized phase III study. Ann Oncol 1998; 9 (2): 187-90.
Johansson K, Lie E, Ekdahl C, Lindfeldt J. A randomized study comparing manual lymph drainage with sequential pneumatic compression for treatment of postoperative arm lymphedema. Lymphology 1998; 31 (2): 56-64.
Szuba A, Achalu R, Rockson S. Descongestive lymphatic therapy for patients with breast carcinoma-associated lymphedema. A randomized, prospective study of a role for adjunctive intermittent pneumatic compression. Cancer 2002; 95 (11): 2260-7.
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