Faculdade Mario Schenberg

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Miostatina e seu Papel na Hipertrofia Muscular


Figura 1. Mecanismo de ação da Miostatina.
 
Após a sua síntese, a Miostatina (latente) é secretada para o meio extracelular. Após passar por um processo de clivagem, a miostatina é liberada do pró-peptídio, podendo exercer sua ação de inibição da hipertrofia e hiperplasia (Miostatina ativa). 


A Miostatina é uma proteína que está presente no músculo esquelético tanto no período embrionário quanto na idade adulta e exerce um potente efeito inibitório sobre o crescimento e desenvolvimento do músculo esquelético, limitando assim o tamanho do músculo. A miostatina inibe tanto a hiperplasia quanto a hipertrofia muscular. Ainda não se sabe ao certo como a miostatina atua, podendo ser pela indução da morte das células (apoptose), inibição da proliferação de células satélites e/ou diretamente no metabolismo protéico.

A função da Miostatina é limitar o crescimento muscular, mantendo quiescentes as células satélites. A partir do momento que o músculo sofre uma microlesão estas células satélites, migram para substituir as células lesionadas. Sem a Miostatina, o freio que atua sobre as células satélites poderia ser eliminado e as células musculares proliferariam.

Algumas mutações no gene da Miostatina já foram identificadas em animais, sendo associadas ao aumento exacerbado da massa muscular, sendo que o ganho de massa muscular decorrente do bloqueio da miostatina se dá principalmente pelo aumento no número de fibras musculares (hiperplasia).

Esta proteína, também é conhecida como GDF-8 (Growth and differentiation factor 8) e é um membro da família das supercitocinas do fator de crescimento transformador TGF-β, (Transforming growth factor-beta). Sua ação consiste em regular a proliferação dos mioblastos durante o período embrionário e ajustar o crescimento da musculatura esquelética em humanos e animais, durante e após o período embrionário. Esta regulação se dá através de uma interação com o receptor Activina IIB pela junção da miostatina com um propeptídeo.

Resultados recentes mostram que em nosso organismo está presente também o inibidor o da Miostatina que é conhecido como folistatina. Embora a folistatina pareça ser um potente inibidor da atividade da mesma, ela também funciona como inibidor de actinina. Actininas estão envolvidas em múltiplas funções em diversos órgãos, pelo seu bloqueio a folistatina iria afetar múltiplos tecidos, como os lisos e o cardíaco e não apenas o músculo esquelético.
 
Alguns compostos (folistatina) apresentam capacidade de interação com a Miostatina, inibindo a sua atividade biológica. A ligação da miostatina (ativa) com estes compostos reduz a sua disponibilidade para subseqüente interação com o receptor ActIIB.

Nas ultimas décadas foi verificado que algumas raças de gado tinham uma mutação no gene da Miostatina, de modo que se formava uma proteína não funcional, o que demonstrou que a Miostatina inibia o crescimento da musculatura esquelética, e a principal características destes animais detentores desta mutação, era o crescimento exacerbado dos músculos, fenômeno chamado “double muscling”. Há pouco tempo foi encontrado o caso de uma criança alemã extremamente musculosa que possuía uma dose dupla de uma mutação que inativa a Miostatina, esta criança apresentava fenótipo semelhante ao “double muscling”. 

Foi constatado por manipulação genética feita com camundongos transgênicos, que quando ocorre uma deficiência de Miostatina ocorre um drástico e generalizado aumento de massa muscular esquelética, principalmente devido a um número maior de fibras musculares livres de gorduras, chegando a ter um aumento em volume cerca de 2 a 3 vezes mais que camundongos selvagens.

Recentemente, um composto derivado da alga parda cystoseira canarienses, apresentou capacidade de ligação com a Miostatina no sangue (RAMAZANOV, 2003). Entretanto, um estudo utilizando suplementação de cystoseira canarienses (1200mg.dia-1) associada ao treinamento de força não demonstrou efeito aditivo sobre a aquisição de força e massa muscular, em comparação ao grupo treinado não-suplementado. No referido estudo, o consumo de cystoseira canarienses não foi capaz de potencializar as adaptações induzidas pelo treinamento de força (WILLOUGHBY, 2004b). Estes dados sugerem que a
suposta interação deste composto com a Miostatina não foi capaz de inibir o seu efeito biológico.

Acredita-se que o bloqueio da sinalização da miostatina seja um dos candidatos de maior potencial de abuso no esporte, já que o ganho de massa muscular pode ser decisivo em diversas modalidades esportivas. Contudo, a utilização de bloqueadores da miostatina como recurso ergogênico talvez ainda esteja um pouco distante, já que os estudos com bloqueio da miostatina envolveram animais transgênicos, ou seja, que não produziam a proteína desde o início do desenvolvimento. Não se sabe, portanto, quais são exatamente os efeitos quando o bloqueio ocorre apenas na idade adulta, período em que não se observa aumento no número de fibras musculares. Outra questão importante diz respeito à possibilidade de expressão dos genes inibidores da miostatina em outros tecidos musculares, como os lisos e o cardíaco. 
Apesar desse risco não ser muito alto, uma vez que os animais do estudo de Lee e McPherron expressaram os transgenes apenas na musculatura esquelética, não se pode descartar essa hipótese, considerando que não há dados na literatura sobre transferência vetorial desses genes e que envolvam seres humanos.

Nesse ritmo, não criaremos mais super atletas em clubes ou centros olímpicos de treinamento, e sim, em laboratórios antes mesmo do espermatozóide encontrar o óvulo. E, particularmente, acho essa hipótese algo que me deixa muito empolgado e disposto a fazer.


Referências:


ARTIOLI, Guilherme Giannini; HIRATA, Rosário Dominguez Crespo; LANCHA JUNIOR, Antonio Herbert. Terapia gênica, doping genético e esporte: fundamentação e implicações para o futuro. Rev Bras Med Esporte, Niterói, v. 13, n. 5, Oct. 2007 .
GASPAROTTO, Juciano; JUNIOR, Amilton Rogério Morais. Comportamento da miostatina frente ao treinamento contra resistência. Revista Digital edf esportes, Buenos Aires - Ano 13 - Nº 128 – Jan. 2009.
LEAL, Marcelo L.; SANTOS, Audrei dos Reis; AOKI, Marcelo Saldanha. Adaptações moleculares ao treinamento de força:recentes descobertas sobre o papel da miostatina. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 161-167, 2008.

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