Faculdade Mario Schenberg

quarta-feira, 5 de março de 2014

FUNRIO – SESDEC/RJ 2008 – Questão 29

29. A redução do espasmo muscular pela crioterapia deve-se à diminuição:

A) do limiar das terminações nervosas aferentes e da sensibilidade dos fusos musculares.

B) do fluxo sanguíneo para as fibras musculares.

C) da regulação central do tônus muscular.

D) na redução do transporte de cálcio pelas membranas das fibras musculares.

E) na diminuição da função nociceptiva.

TIGRE DE GELO


De acordo com Umphed (1994) o gelo prolongado produz redução na hipertonicidade por reduzir a neurotransmissão de impulsos aferentes e eferentes. A velocidade de condução nervosa periférica tanto em fibras mielínicas largas quanto em amielínicas pequenas reduz 2,4 milisegundo por grau Celsius (ºC) de esfriamento; como resultado, a percepção da dor e contratilidade muscular diminuem. A responsividade do fuso muscular ao alongamento diminui; como resultado, diminui o espasmo muscular.

De acordo comentário do Lucas aqui neste post, essa questão contém um erro. Se a crioterapia diminui o “limiar” da terminação nervosa, ela aumenta o espasmo, porque a fibra ficaria mais facilmente excitável.

Para simplificar isso, e apenas com essa finalidade, substituam o termo “limiar” pelo termo “ponto”. Ou seja, se o gelo diminui o “ponto” de excitação da terminação nervosa, ela é mais facilmente estimulada, e seu estímulo é transmitido ao fuso neuromuscular, aumentando o espasmo muscular. Mas só usem essa substituição de “limiar” por “ponto” aqui, para facilitar, não serve na maioria de outros contextos.

A FUNRIO é inespecífica na maioria das vezes, então temos que “relevar” muita coisa para chegar à resposta certa. Foi o que fiz, sem me explicar.

Concordo com o Lucas, essa questão poderia ser anulada, desde que se levasse em conta na elaboração do recurso que o termo “limiar” não aparece definido por “excitabilidade”, e que essa omissão poderia ser considerada como proposital pela banca.

Mesmo forçando a barra, e substituindo a “velocidade de condução” por “limiar de condutibilidade”, se a crioterapia diminuir seu limiar, também estaria incorreta.

Mas, olhando por um outro lado, entre as alternativas, não há nenhuma outra viável de se responder no lugar da “A”, então imaginaria que a banca busca justamente confundir e marcaria a “A” mesmo. Caso a resposta seja outra, entraria com recurso mostrando que todas as demais são incorretas.

Rápida revisão:

Potencial de repouso (potencial transmembrana)

Devido à diferença de concentração entre os meios intra e extracelular forma-se uma diferença de potencial entre o interior da célula e o meio extracelular.
Este valor é em média = -0,85 mv e recebe o sinal- por convenção (o interior da célula tem grande quantidade de ânions protéicos). Nessa situação a célula é dita polarizada. Essa característica é comum a todas as células do organismo na ausência de estímulos eficazes.

Excitabilidade celular
É a propriedade que a célula possui de alterar o seu potencial de repouso quando submetida a estímulos eficazes.

Despolarização celular: entrada de sódio

Quando uma célula recebe um estímulo eficaz ocorre um aumento da permeabilidade (g) do íons sódio (abrem-se os portões dos canais de sódio).
O Na+ entra na célula a favor do gradiente de concentração levando consigo cargas positivas e gerando uma ligeira despolarização local. Essa despolarização, por sua vez, aumenta ainda mais a permeabilidade ao sódio fazendo com que grandes quantidades deste íon entre na célula. Esse fenômeno é chamado despolarização celular e ocorre até que a célula atinja valores entre 10 e 60 mv com um valor médio de +30 mv.
Esse ponto é denominado potencial de Overshoot e faz com que ocorra a inativação do fluxo de sódio que cessa a sua entrada na célula. Na verdade a despolarização celular é um processo de inversão da polaridade.
Processo de ativação do Na ou ciclo de Hodgkin ou retroalimentação positiva para o Na

despolarização> alteração na est da membrana > aum g Na+ > influxo de Na+> despol.

Repolarização Celular: saída de potássio

Aproximadamente um milisegundo após a despolarização celular, ocorre um aumento da permeabilidade ao potássio que sai da célula a favor do gradiente de concentração (difusão simples) levando consigo cargas positivas e fazendo com que o potencial caia novamente a valores negativos. Esse processo é denominado repolarização celular. Após esse processo a célula volta a apresentar o seu valor normal de potencial de repouso (-85 mv); porém, as concentrações de Na+ e K+ estão invertidas. A bomba de sódio e potássio repõe as concentrações normais destes íons tornando a célula apta a responder a um novo potencial de ação.

Hiperpolarização celular: saída excessiva de potássio

Em algumas células durante o processo de repolarização celular, a diferença de potencial pode baixar a valores maiores que -85 mv. Esse fenômeno dura apenas milésimos de segundo e imediatamente a célula volta a apresentar o seu potencial de repouso normal.
A hiperpolarização ocorre devido a grande permeabilidade da célula aos íons potássio.

Potencial de Ação (PA)
Variações no potencial de membrana pela qual a célula passa durante a transmissão ao longo da fibra nervosa, também chamado impulso elétrico ou nervoso. Para que ocorra um Potencial de açãoA numa célula vamos fazer a soma de todos potenciais que atuam na célula naquele momento (ex: -59 mv dispara PA do tipo tudo ou nada; se não chega a este valor se diz que o neurônio está facilitado).

Condução da onda de despolarização
A propagação da onda de despolarização é bidirecional na célula nervosa e unidirecional na via nervosa. Em neurônios mielinizados a condução é dita saltatória, o que faz com que o estímulo se propague mais rapidamente e com menos gasto de ATP.
Os neurônios não-mielinizados são isolados pelos prolongamentos do citoplasma da célula de Schwann.
A repolarização de uma célula inicia sempre no mesmo local em que ela foi despolarizada.

Tipos de estímulos

-sublimiares: estímulos incapazes de gerar Potenciais de Ação. Geram apenas pequenas respostas locais não-propagaveis.
- limiares: menor estímulo capaz de gerar um Potencial de Ação.
- supralimiares: desencadeiam PAs que possuem a mesma amplitude dos potenciais gerados pelos estímulos limiares.

Características dos Potenciais de Ação
- princípio do tudo ou nada: a célula nervosa responde de forma máxima a estímulos limiares e supralimiares, e gera respostas locais não propagadas a estímulos sublimiares, ou seja, o aumento na intensidade de estimulação não aumenta nem a amplitude nem a velocidade de condução.

- somação temporal: quando dois ou mais estímulos sublimiares forem aplicados num intervalo menor que 1 ms, esses estímulos podem se somar e desencadear um PA.

- somação espacial: quando dois ou mais estímulos sublimiares forem aplicados simultaneamente e bem próximos, eles podem se somar e desencadear um PA.

- período refratário absoluto: dura de 0,4 a 1 ms após a gênese do PA. Nesse período a célula não apresenta a sua característica de excitabilidade, ou seja, não é capaz de responder a nenhum tipo de estímulo nervoso mesmo que ele seja supralimiar.

- período refratário relativo: dura de 10 a 50 ms após a gênese do PA. Nesse período as respostas somente poderão ser geradas quando da aplicação de estímulos supralimiares.

Velocidade da condução
A velocidade de condução é maior quanto maior for o diâmetro da fibra nervosa. Em neurônios mielinizados a condução é mais rápida que nos não-mielinizados. Basicamente, as fibras nervosas podem ser divididas em 3 grupos:
- tipo A: mielinizados com grande diâmetro. Condução mais rápida.
- tipo B: mielinizados com diâmetro pequeno
- tipo C: amielinizados com diâmetros pequenos e discretos. Condução mais lenta.

Processo de transmissão nas sinapses

O PA chega ao elemento pré-sináptico e gera um aumento de permeabilidade ao Ca++ que por difusão simples entra no elemento pré-sináptico e por um mecanismo ainda desconhecido faz com que as vesículas sinápticas liberem o neurotramsmissor na fenda sináptica (exocitose). A grandeza do PA determina a quantidade de Ca++ que entra e que, por sua vez, determina a quantidade de neurotransmissores liberados. Os neurotramsmissores ligam-se aos receptores de membrana pós-sinápticos determinando a abertura dos portões e podendo gerar dois tipos diferentes de potenciais.

- tipo 1: se ocorrer aumento de permeabilidade ao sódio haverá uma despolarização e será gerado um PPSE (potencial pós-sináptico excitatório)

- tipo 2: se ocorrer aumento de permeabilidade ao potássio o elemento pós-sináptico ficará hiperpolarizado e formará um PPSI (potencial-pós sináptico inibitório)

Esses potenciais pós-sinápticos são potenciais locais e passíveis de soma, ao contrário do potencial de ação que responde a lei do tudo ou nada. Quando os potenciais pós-sinápticos atingirem o limiar de excitação (-59 mv) será desencadeado no neurônio pós-sináptico um potencial de ação do tipo tudo ou nada. Esse potencial irá percorrer o axônio até o botão sináptico iniciando o processo químico de transmissão sináptica.

Quanto maior for a frequência do PA, maior é o aumento da permeabilidade ao Ca++, mais cálcio entra e maior a quantidade de neurotransmissor liberado.

Alternativa assinalada no gabarito da banca organizadora: A

Alternativa que indico após analisar: Nenhuma

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