Faculdade Mario Schenberg

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

PROVA COMENTADA - INSS - FISIOTERAPEUTA 2013

Espero que gostem.

Questão 61. A análise da Marcha é sem dúvida um dos capítulos clínicos mais interessantes na assistência da recuperação física, na maioria das enfermidades. Assinale, dentre as opções abaixo, o conceito correto sobre a marcha.
A) Tanto o Período de Apoio quanto o da Oscilação são subdivididos em três fases.
B) O ciclo da marcha é o intervalo entre o toque do calcanhar dos membros inferiores direito e esquerdo alternadamente.
C) O comprimento do Passo é a distância entre o toque do calcanhar e seu toque subsequente.
D) O Período de Apoio contém uma fase de apoio simples e uma fase de apoio duplo.
E) O Período de Oscilação corresponde à aproximadamente 60% do ciclo da marcha.

GABARITO: o Gabarito oficial é “C”, mas como veremos a seguir a alternativa “D” parece ser a mais correta.

COMENTÁRIO
Esta é uma questão interessante de ser comentada. Vamos analisar cada uma das alternativas individualmente.
Logo de cara eu colocaria a alternativa (A) na geladeira, isto é: não a classificaria nem como correta nem como errada, pois dependendo da bibliografia do concurso é possível encontrar autores que subdividem cada fase da marcha em 3, 4 ou até mais de 5 subfases. Assim, como eu disse, eu deixo a alternativa “A” como provável, mas só no caso de nenhuma outra alternativa se apresentar verdadeira.
A alternativa “B” avalia se o(a) candidato(a) conhece a definição de ciclo da marcha. Confesso que definições são chatas, por isso ao invés de repetir a definição, vou tentar explorar o conceito de ciclo da marcha. Isso certamente ajuda a memorizar. Assim, vamos começar pelo princípio: O que é um ciclo? Podemos definir ciclo como um conjunto de fenômenos que se repetem. No caso do ciclo da marcha, existem dois fenômenos que se repetem: a fase de apoio e a fase de balanço. Assim, podemos deduzir que o ciclo da marcha começa com o início da fase de apoio de uma perna (no caso, o toque de calcanhar no solo de uma das pernas), que evolui para a fase de balanço, quando a perna avança sem tocar o solo e termina com o toque de calcanhar da mesma perna. 
Depois desta longuíssima explicação, podemos concluir que a definição apresentada na alternativa “B” não é a de ciclo de marcha
A alternativa “C” é outra que envolve definições: Novamente vamos usar uma analogia para tentar memorizar a definição de passo. Lembra aqueles filmes de piratas, onde o baú de tesouro ficava enterrado 10 passos ao leste do coqueiro? Pois bem, lembra como o pirata faz pra contar os passos? Pé no chão, avança com a outra perna e só quando esta toca no chão é que o pirata conta o primeiro passo. Ora, tá explicado! O comprimento do passo é a distância entre o toque de calcanhar de um pé e o toque de calcanhar do pé contralateral !!!! Então, o capitão Jack Sparrow acaba de nos ensinar que a alternativa “C” também está errada.
Não confia na minha analogia? Tudo bem, você pode acessar a definição de passo no artigo  http://www.scielo.br/pdf/fm/v24n4/19.pdf, o qual define que o comprimento do passo é a distância da extremidade posterior do calcanhar até a extremidade posterior do calcanhar do outro pé. A alternativa C contém a definição de passada: O comprimento da passada é a distância posterior do calcanhar de um pé até a extremidade posterior do mesmo calcanhar. Confira na figura a abaixo:


Voltando ao assunto:
A alternativa “D” é bem direta, e não me deixa muito o que explicar. A fase de apoio realmente possui uma fase de apoio simples e uma fase de duplo apoio (dependendo do autor esta ainda se divide em duplo apoio inicial e duplo apoio terminal), que é quando ambos os pés tocam o solo simultaneamente. Pronto! Achamos a alternativa correta! Mas continue lendo, pois a análise da alternativa “E” também vale a pena.
A alternativa “E” está incorreta. Um macete para lembrar a duração das fases é o seguinte: Intuitivamente, podemos julgar que a marcha é dividida em duas fases de igual duração, ou seja: 50% do ciclo da marcha pertence a fase de balanço e os outros 50% a fase de apoio. Isso parece justo e razoável, né? Só que o ciclo da marcha esconde uma pegadinha. Lembra que existe um período de duplo apoio, no qual ambos os pés estão em contato com o solo? Pois é, esta fase “rouba” tempo do ciclo da marcha da perna direita e da perna esquerda. Este período de duplo apoio acrescenta tempo a fase de apoio, deixando-a mais longa do que a fase de balanço. Isso se traduz no fato de que a fase de apoio dura cerca de 60% do ciclo da marcha, deixando os 40% restantes para fase de balanço.

Questão 62 A resistência interna a uma carga axial em qualquer tecido pode gerar estresse de tipo
A) compressivo e de cisalhamento.
B) tensivo e de cisalhamento.
C) somente de cisalhamento.
D) compressivo, tensivo e cisalhamento.
E) somente compressivo e tensivo.

GABARITO: alternativa "E"

COMENTÁRIO
As cargas que atuam sobre os tecidos podem produzir 5 tipos de tensão e estiramento nos tecidos: Compressão, tensão, cisalhamento, flexão e torção. (Fonte: Fisioterapia na prática desportiva – Prentice) Vamos analisar cada uma delas:  
COMPRESSÃO: Pode ser entendida como um aperto. É um tipo de carga que, atuando axialmente sobre um tecido, tende a diminuir o seu comprimento e aumentar seu diâmetro. É produzida por cargas externas aplicadas uma contra a outra em superfícies e direções opostas. (ex: Vértebras lombares e discos intervertebrais). 
TRAÇÃO: É o oposto da compressão. É a força que traciona ou alonga o tecido. Conceitualmente falando trata-se de um tipo de carga que, atuando axialmente sobre um tecido, tende a aumentar o seu comprimento e diminuir seu diâmetro. Tanto a distensão de músculos quanto a de ligamentos ocorrem devido ao aumento da tensão.
CISALHAMENTO: Ocorre quando cargas iguais, mas não diretamente opostas são aplicadas a superfícies que se opõem, forçando- as a se movimentarem em direções paralelas entre si. É um tipo de carga que tende a provocar um deslizamento (ou deslocamento) de uma parte de um osso sobre outra (ou de um osso sobre outro).
FLEXÃO: É um tipo de carga que tende a curvar um osso, provocando esforços de compressão de um lado e esforços de tração do outro. Acontece quando uma força excêntrica (não-axial) é aplica à extremidade de um osso, criando um momento (torque) em um plano que contém seu eixo longitudinal.
TORÇÃO: É um tipo de carga que tende a torcer um osso. Acontece quando uma força tende a girar um osso em torno do seu eixo longitudinal estando uma de suas extremidades fixas (ou impedida de girar livremente).
Há ainda uma sexta possibilidade:  
CARGAS COMBINADAS: Como os ossos do corpo humano estão submetidos à força gravitacional, forças musculares e outros tipos de forças, eles geralmente estão submetidos a mais de um tipo de carga.  A combinação de duas ou mais formas puras de carga é chamada carga combinada.
Muito bem amiguinhos e amiguinhas, de acordo com as definições acima podemos identificar que a compressão e a tensão são resultado de forças axiais sobre os tecidos. A carga de cisalhamento embora possa ser axial, é aplicada a superfícies que se opõem e pode ser entendida como a resultante gerando um deslizamento entre elas.  As demais cargas como torção, flexão e cisalhamento são aplicadas de forma não axial. A figura abaixo ajuda na compreensão.



  

Questão 63. As graves lesões do sistema nervoso periférico, caracterizadas por degeneração do axônio distalmente à lesão, sem interrupção de continuidade do endoneuro, denominam-se
A) Neuropraxia.
B) Neuroesclerose.
C) Axoniotmese.
D) Neurotmese.
E) Axonioesclerose.

GABARITO: Alternativa "C"

COMENTÁRIO:
Este é um tema clássico em concursos: Lesões nervosas periféricas. Aliás, recomendo a leitura do artigo de revisão da revista de neurociências disponível em:http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2007/RN%2015%2003/Pages%20from%20RN%2015%2003-10.pdf
 Esta é uma questão do tipo decoreba, e exige do(a) candidato(a) conhecer a classificação das lesões nervosas periféricas de acordo com Seddon. Um macete para entender estas lesões é imaginar que o nervo periférico é igual a um fio de energia elétrica. Sendo a capa de borracha isolante, comparável ao endoneuro e o fio metálico comparável ao axônio. Se você torcer um pouco o fio, pode acontecer dele ficar com um pouco de mau contato (a energia até flui, mas não é nenhuma Brastemp). Isto é semelhante (perdoem-me os mais puristas, mas entendam que este exemplo tosco é para facilitar o aprendizado) ao que acontece na neuropraxia = lesão leve com perda motora e sensitiva, sem alteração estrutural. Geralmente é conseqüência de um processo de compressão de curta duração. A condução nervosa está preservada acima e abaixo do local da lesão, não ocorrendo a degeneração walleriana.
Agora, se você torce ainda mais o fio, você arrebenta ele por dentro, mas mantém a borracha de isolamento ainda intacta. Isto é o que acontece na axonotmese = Há perda de continuidade axonal e subseqüente degeneração Walleriana do segmento distal. Este fenômeno desencadeia o processo degenerativo do axônio (axonotmese), e da bainha de mielina, com preservação do tubo de endoneuro.
Finalmente, se você pega um alicate e corta o fio, você tem a neurotmese = separação completa do nervo das bainhas de tecido conjuntivo.
Com  relação a neuroesclerose e axonioesclerose, creio que estas são pegadinhas colocadas pela banca.

Questão 64. Assinale a opção que apresenta apenas condições que contraindicam qualquer modalidade de aquecimento por termoterapia.
A) Discrasias sanguíneas e áreas com insuficiência vascular.
B) Celulite não infecciosa e extensas áreas com equimose.
C) Rigidez fibrótica e áreas com cicatrização hipertrófica.
D) Distúrbio na fisiologia termorreguladora e espasmos neurogênicos.
E) Presença de tumores e constipação das vias aéreas superiores.

GABARITO: Alternativa "A"

COMENTÁRIO:
Vamos rever as contraindicações de termoterapia: 
A termoterapia por adição é contra-indicada durante a fase aguda de processos inflamatórios, traumáticos ou hemorrágicos e quando há discrasias sangüíneas, isquemia ou estase venosa tecidual, radioterapia local, infecções regionais ou anormalidades cognitivas e hipoestesia regional que comprometem a percepção ou o relato da ocorrência de hipertermia e de queimaduras. 
Além destas contra-indicações, a termoterapia por meio de ondas curtas é contraindicada em doentes com implantes metálicos, incluindo o material de osteossíntese, devido ao risco de queimaduras profundas, com dispositivos eletrônicos implantados (estimuladores elétricos para analgesia, bombas de infusão de medicamentos, marca-passos), pois podem induzir ao mau funcionamento do equipamento implantado. FONTE: Medicina física e reabilitação em doentes com dor crônica, disponível em  http://www.sld.cu/galerias/pdf/sitios/rehabilitacion-bal/yengtl_et_al.pdf
Ora bolas, só sobrou a alternativa “C”, a qual contém duas indicações de termoterapia. No entanto, uma coisa me intriga: o que é “constipação de vias aéreas”?????

Questão 65. Na avaliação do equilíbrio pélvico, quando o paciente estiver apoiado somente em um membro inferior e a pelve apresentar abaixamento contralateral ao membro apoiado, expressa o sinal de Trendelemburg, significando impotência do
A) glúteo médio do lado do membro inferior não apoiado. 
B) quadrado lombar e do glúteo maior do lado do membro inferior não apoiado.
C) quadrado lombar do lado do membro inferior apoiado.
D) glúteo médio do lado do membro inferior apoiado.
E) quadrado lombar e do psoas-ilíaco do lado do membro inferior apoiado.

GABARITO: Alternativa "D"

COMENTÁRIO:
Na figura abaixo, podemos visualizar o sinal de Trendlemburg. 
Quando pedimos ao paciente para se manter em apoio monopodal, o esperado é que a pelve se mantenha estável e alinhada em uma posição horizontal. No entanto, se a pelve “cai” para o lado em que a perna foi levantada, isso caracteriza o Sinal de Trendlemburg, que indica fraqueza do músculo glúteo médio. Na figura abaixo, o músculo glúteo médio encontra-se em destaque. Percebam que se ele se contrair, ele tracionará a pelve em direção ao fêmur, realinhando-a em uma posição horizontal.


 Questão 66. A espasticidade é uma manifestação de desordem motora, característica da síndrome
A) do sistema extrapiramidal.
B) cerebelar.
C) do sistema nervoso periférico.
D) do neurônio motor superior.
E) do neurônio motor inferior.

GABARITO Alternativa "D"

COMENTÁRIO:
Outra questão decoreba, mas vamos aproveitar e falar um pouco dos sinais motores que podemos encontrar em lesões nas estruturas citadas nas demais alternativas:
De um modo geral e bastante genérico, uma lesão do sistema extrapiramidal causa incoordenação motora e movimentos involuntários tais como coréia, balismo, atetose, distonia e discinesia (tremores), mas estes sintomas vão depender do tipo de síndrome extrapiramidal (sim, existem diferentes síndromes extrapiramidais).
Lesões cerebelares: Lesões cerebelares têm como principal sintomatologia a incoordenação motora, ou ataxia. Na faculdade, aprendi que a ataxia é composta por vários “Dis”: Dismetria, disdiaconocinesia, disbasia, disfagia  e disartria, além da decomposição do movimento, nistagmo, hipotonia e tremor de intenção (nem todos estes sintomas podem estar presentes em um mesmo paciente)
Lesões do sistema nervoso periférico e lesões do sistema nervoso periférico são a mesma coisa. Caracterizam-se por paralisia flácida, com arreflexia, hipotrofia/atrofia muscular e podendo ou não haver mioclonia.
Lesões do neurônio motor cursam com a tríade clássica: Espasticidade, hipereflexia e sinal de Babinski. 

Questão 67. Na escala de força muscular de Kendall, o Grau 3 é conferido ao músculo capaz de
A) realizar o arco completo do movimento estando a ação da gravidade anulada.
B) contrair-se sem, contudo, realizar movimento.
C) realizar o arco completo do movimento sem aplicação de resistência externa.
D) realizar parcialmente o arco de movimento.
E) realizar parcialmente o arco de movimento contra a ação de uma resistência externa.

GABARITO: Alternativa “C”

COMENTÁRIO:
Mais uma questão decoreba!!!! Vamos relembrar a escala de força:
Grau 0:  Nenhum movimento é observado
Grau 1:  Apenas um esboço de movimento é visto ou sentido ou fasciculações são observadas no músculo. 
Grau 2:  Há força muscular e movimentação articular somente se a resistência da gravidade é removida 
Grau 3:  A articulação pode ser movimentada apenas contra gravidade e sem  resistência do examinador.  
Grau 4:  A força muscular é reduzida, mas há contração muscular contra a resistência.
Grau 5:   Força normal contra a resistência total.


Questão 68. O relaxamento produzido pela hipertermia tissular nos espasmos musculares é resultado de vários fenômenos, exceto o que está explicado na seguinte alternativa:
A) Diminuição da sensibilidade do fuso muscular ao estiramento.
B) Aumento da ação vasodilatadora por mecanismo reflexo a nível dos receptores de temperatura local e central.
C) Aumento dos impulsos inibitórios a partir dos órgãos neurotendíneos de Golgi.
D) Diminuição do metabolismo tecidual à extensa elevação da temperatura por tempo prolongado.
E) Não se verifica modificação nas ações entre os sistemas gama e alfa, pelo aquecimento.

GABARITO: Alternativa "E"

COMENTÁRIO:
Eu achei esta questão muito confusa. O enunciado é bem claro, porém as alternativas me pareceram confusas. Pra ser sincero, só consegui encontrar referências que explicasse a alternativa “A”. Quem tiver referências ou queira contribuir com esta postagem explicando esta alternativa, por favor sinta-se à vontade.
Gabarito oficial: Alternativa “E”   

Questão 69. Qual das manifestações físicas abaixo não é observada nas doenças cerebelares?
A) Hiperreflexia cutâneo-plantar
B) Disartria
C) Ataxia
D) Hipotonicidade
E) Distúrbios posturais e desequilíbrios

GABARITO: Alternativa "A"

COMENTÁRIO:
Esta questão foi parcialmente respondida nos comentários da questão 66. Aqui uma pequena observação: A alternativa “A” faz menção a hiperreflexia cutâneo-plantar, também conhecida como sinal de Babinski e característica de lesões de primeiro neurônio. O sinal de Babinski não ocorre em lesões cerebelares puras. 

Questão 70. O texto original que descreve o Código Deontológico das profissões de fisioterapeuta e de terapeuta ocupacional está contidona Resolução COFFITO nº
A) 6
B) 7
C) 8
D) 9
E) 10

GABARITO: Alternativa “E”

COMENTÁRIO
Ok Pessoal, mais uma decoreba. Não tem como explicar, tem que ler as resoluções!

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